17 junho 2014

A decepção de todos prevencionistas

Pode parecer um pouco forçado o título dessa postagem, mas certamente todos prevencionistas que levam seu trabalho a sério, já passaram por uma situação parecida, pelo menos uma vez na vida.

Já tinha a ideia de escrever este texto há algum tempo, porém somente agora com o falecimento da mãe de um grande amigo, tomei a iniciativa. Isso porque a infeliz ocorrência poderia ter sido evitada se procedimentos básicos de RCP (Reanimação, ou Ressuscitação Cardio-pulmonar) tivessem sido realizados logo no inicio da PCR (Parada Cardio-respiratória), procedimentos que meu amigo tentou passar aos familiares, sem grande sucesso.

Já ouviram aquela expressão: "em casa de ferreiro, o espeto é de pau"? Ou aquela outra: "santo de casa, não faz milagre"? Bom, elas se aplicam nessa situação, inclusive, compartilhadas por mim, e acredito, pela maioria dos prevencionistas.

Quando se é ignorante sobre um assunto, é normal adotar uma postura geralmente errônea e por muitas vezes, perigosa às nossas próprias vidas ou de outrem. Entretanto ao estudar e se aprofundar sobre uma área, passa-se a levar este conhecimento no dia-a-dia, tornando parte de nossas vidas, pelo menos isso é o que acontece com os profissionais sérios. Uma vez prevencionista, você torna-se 24 horas por dia prevencionista.

Isso por si só é algo ótimo e extremamente positivo, porém para tudo bom, existe o lado ruim, neste caso a decepção de repassar estes conhecimentos ao próximo. Afinal, quem nunca ficou triste, decepcionado, ou pelo menos um pouco chateado por não ter conseguido cumprir seu papel de conscientizador numa palestra, ou aula? Felizmente temos Leis, regras, fiscalização e punições para garantir o cumprimento "forçado" dessa conscientização nos profissionais, pois dependesse apenas da boa vontade alheia, muitas mortes ou acidentes ocorreriam por ai.

Mas em casa? Onde não há Lei, fiscalização, punição a aqueles que não seguem suas instruções? Como fica? É exatamente ai onde fica a maior decepção da maioria dos prevencionistas: os próprios familiares e amigos simplesmente não ligam para as valiosas informações que essa pessoa tem a passar. Acreditem amigos, isso é maior do que imagina-se.

Quem já se deparou com respostas de familiares ou amigos dizendo:

1. Eu faço isso a X anos, nunca aconteceu nada;
2. Mas isso nunca vai acontecer aqui em casa;
3. Se acontecer algo, tem você ai pra resolver;
4. Se acontecer, a gente morre. A morte é inevitável;
5. Eu não consigo aprender isso, pois não uso, não é importante pra mim;
6. É muita informação, prefiro ligar pro SAMU / Bombeiro / Polícia.

Particularmente já ouvi essas todas e procuro sempre utilizar exemplos, fatos, etc, para quebrar estes argumentos, porém sem vontade própria da pessoa, fica impossível muda-la. Eu tenho a informação, cabe à pessoa querer aprender e se importar, pois não estarei lá sempre, pode acontecer de eu ser a vítima. Essas respostas acima geralmente são dadas pelo profissional no local de trabalho, bastante normal ouvi-las, mas quando um amigo ou familiar, com quem nos importamos fala isso, a decepção e o sentimento de fracasso tomam conta da mente.

Pra mim, o pensamento mais recorrente é: "se não consigo convencer meus próprios amigos e familiares da importância da prevenção e conhecimentos básicos em combate a incêndio,  primeiros socorros e atendimento de urgências e emergências, considerando que tenho horas, dias, semanas, meses, anos pra poder convence-los, como vou conseguir convencer os profissionais de uma empresa que nunca me viram, num rápido curso de 8 horas? Será que sou um péssimo profissional? Será que não tenho argumentos convincentes? Será que não sirvo pra ser prevencionista?"

Essas perguntas me assolam desde a época em que iniciei meus cursos na área e acredito também preocupam muitos outros parceiros, porém é preciso entender que essas perguntas são negativas e é preciso olhar por outra perspectiva, onde algumas coisas estão longe do nosso alcance e não dependem exclusivamente de nós. Li certa vez que a compreensão de uma comunicação é baseada em 50% de quem fala e 50% de quem ouve, ou seja, cabe a pessoa que ouve, entender e compreender corretamente o que lhe é dito, caso contrário "entra por um ouvido e sai pelo outro".

Cabe a nós, sempre usar oportunidades para realizar nosso trabalho de conscientização e na medida do possível ensinar um pouco do que sabemos.


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